Muitas vezes ouvimos relatos de pais e professores: Aquele adolescente é “malcomportado”, é “difícil”, “irrita-se muito facilmente”. Relatos como estes não são incomuns e podem (nem sempre) indicar-nos que estamos perante um tipo de Perturbações disruptivas, do Controlo dos Impulsos e do Comportamento (PD). Nestas perturbações, o adolescente/criança demonstra frequentemente dificuldades ao nível do autocontrolo das emoções/comportamentos, viola os direitos dos outros e entra em conflito com figuras de autoridade. Dentro das PD, entre outras, encontramos a Perturbação Desafiante de Oposição (PO) e a Perturbação do Comportamento (PC).
- Na PO, encontramos um padrão recorrente de comportamento negativista, desafiante, desobediente, hostil, face a figuras de autoridade. Em média, esta perturbação encontra-se em cerca de 3.3% da população e pode ser um precursor da PC.
- Já na PC, deparamo-nos com um padrão persistente e repetitivo de comportamentos em que o jovem desrespeita/viola os direitos básicos dos outros, regras importantes e normas sociais que são próprias para a sua idade. Em média, entre 2 e 10% da população parece apresentar esta perturbação.
Na PO, a criança/adolescente apresenta um humor irritável, dificuldades em obedecer e comportamentos de oposição/desafio face a figuras de autoridade, num nível mais grave que crianças/adolescentes da mesma idade. Na PO, há muitas vezes acessos de raiva e violação de pequenas regras. A criança/adolescente mostra-se rancoroso/vingativo, frequentemente perturba os outros e culpa-os pelos seus erros ou mau comportamento. Na PO, é mais comum encontrarmos sintomas emocionais como o humor irritável. Na PC, há um padrão mais grave e mais persistente de violação dos direitos dos outros, das normas e regras sociais. A criança/adolescente com PC pode insultar, ameaçar ou intimidar os outros, iniciar lutas físicas e destruir propriedade alheia. É importante notar que muitas vezes, juntamente com a PC podem ocorrer fugas de casa bem como o consumo de substâncias.
É importante notar que nestas perturbações, os jovens apresentam um grande sofrimento. Desta forma, é fundamental identificar sinais de alerta que podem estar mascarados:
- Tendência a interpretar o comportamento dos outros como hostis;
- Crenças de que o comportamento agressivo vai gerar resultados positivos;
- Dificuldade em acalmar-se/intolerância à frustração;
- Dificuldades na flexibilidade, adaptabilidade e planeamento;
- Dificuldade em colocar-se no lugar do outro;
- Dificuldades em considerar as consequências das suas ações.
No que respeita a intervenção psicoterapêutica, esta deve ser claramente baseada em modelos integrativos de múltiplos fatores de origem e manutenção dos comportamentos. Uma intervenção eficaz deve incluir e articular a criança/adolescente, os pais, os professores e o contexto (escolar/familiar). Desta forma, entre outros objetivos, a intervenção procura:
- Estar atenta à perspetiva da criança/adolescente;
- Identificar estímulos que desencadeiem o comportamento disfuncional;
- Ajudar os jovens/pais/professores a identificar os comportamentos disfuncionais;
- Quebrar eventuais padrões de ação/reação disfuncionais;
- Ajustar as interações de forma a impedir a escala de comportamentos disfuncionais;
- Apostar no reforço (social/material) e numa comunicação de ordens/limites eficaz;
- Diminuir a culpa (nos pais e nos jovens).