Quando pensamos no desenvolvimento motor dos nossos filhos, mais facilmente conseguimos identificar quando é que o nosso bebé começou a colocar-se de pé ou a andar mas raramente nos lembramos quando começou a pegar pequenos objetos entre o polegar e o indicador ou a passar objetos de uma mão para a outra.
Pois bem, as competências de motricidade fina, que se desenvolvem desde sempre, são imprescindíveis para realizarmos tarefas mais minuciosas, como é o caso de alcançar, agarrar e manipular objetos ou seja, quando usamos as nossas mãos e dedos de uma forma mais específica.
O desenvolvimento da motricidade fina tem forte impacto na desempenho da criança em tarefas do seu dia-a-dia, como vestir-se, abotoar botões, fechar o fecho, atar os atacadores, abrir recipientes, lavar os dentes, mas também essencial no desempenho de tarefas de cariz académico, como é o caso de desenhar, escrever, pintar, recortar, colar, afiar o lápis.
Sabia que nos primeiros 4 meses de vida a capacidade de preensão do bebé é reflexiva? O que significa que não será capaz de largar propositadamente os objetos que pega.
• Aos 6 meses alcança os objetos, segura-os e leva-os à boca.
• Aos 12 meses a criança apanha e segura pequenos objetos entre o polegar e a ponta do indicador.
• Entre 1-2 anos agarra caneta na palma da mão com dedos fechados à volta do polegar a apontar para cima para pintar.
• Entre os 2-3 anos quando usa a mão, começa a haver mais movimento de cotovelo. A criança poderá alternar ainda entre a mão principal e a que auxilia mas já se verifica mais predominância numa delas.
• Entre os 3- 4 anos já apresenta uma forte preferência por uma das mãos. Segura a caneta com os 3 dedos.
• Entre os 4-5 anos faz movimentos mais complexos de punho e dedos. A dominância manual já está definida. A criança pinta dentro dos contornos, copia cruzes, linhas diagonais e quadrados com preensão em tríade. Faz cortes mais pequenos e precisos.
• Entre os 5-6 anos as 2 mãos trabalham corretamente em conjunto. A tríade deverá estar integrada. Quando a criança desenha deve realizar movimentos precisos dos dedos, apoiando o antebraço e dedo mindinho sobre a mesa. Já recorta linhas curvas e figuras mais complexas.
E se estas competências não estiverem bem desenvolvidas?
Se estas competências não estiverem bem desenvolvidas aquando da entrada no 1º ciclo, podem surgir problemas associados ao nível da aprendizagem, como por exemplo:
– Comportamentos de teimosia ou desinteresse
– Recusa participação nas atividade pela sua exigência
– Aumento da frustração
– Baixa auto-estima da criança (experimenta o insucesso com frequência que pode ser percecionado pelo próprio e pelos professores e colegas de turma)
– Cansaço fácil e por isso não termina os trabalhos a tempo
– Resultados académicos podem ficar comprometidos uma vez que o esforço da criança está a ser empregue em tentar ultrapassar as dificuldades motoras em vez de estar disponível para a aprendizagem
Devemos estar atentos quando:
– A sua criança evita ou resiste frequentemente de atividades de mesa ou construções
– A sua criança apresenta mais dificuldades que o normal para realizar as tarefas de autocuidado de forma independente
– É tão difícil para a sua criança realizar uma tarefa nova mais fina/ mais precisa que necessita de muito tempo para a aprender/treinar
– Quando o corte com a tesoura é algo muito complicado
– A sua criança apresenta preensão da caneta/lápis muito imatura
– A sua criança escrever lentamente ou muito rápido, sendo o resultado da escrita de pouca qualidade, até muito “sujo”
– A sua criança sente cansaço fácil durante a escrita
No caso de se identificar com o anteriormente descrito ou se pretende ver alguma questão adicional esclarecida, procure o terapeuta ocupacional. Este profissional irá elucidá-lo melhor sobre este assunto.
Bibliografia: A criança e a motricidade fina: desenvolvimento, problemas e estratégias; Paula Serrano, Cira de Luque. – 2ª ed.; Lisboa: Papa-Letras
Mariana Santos
Terapeuta Ocupacional