A crise política, a subida de preços nos bens essenciais, a inflação, a precariedade laboral… é natural que se sinta ansioso ao ser constantemente bombardeado por este tipo de notícias e, acima de tudo, por sentir todas estas dificuldades na pele. A ansiedade é uma reação normal perante a perceção de perigo ou ameaça. Vendo-se confrontado com a sua realidade financeira poderá questionar-se se o seu rendimento será suficiente para fazer face às despesas, se conseguirá um dia comprar casa, se irá contrair dívidas… e o medo, a preocupação e a ansiedade instalam-se. A ansiedade financeira é isto mesmo: “um sentimento de preocupação, medo ou desconforto com as nossas finanças pessoais” (Ordem dos Psicólogos, 2020). Quando a ansiedade se torna persistente começa a impactar negativamente a nossa vida. Poderão surgir problemas como crises de ansiedade e/ou de pânico, insónia, preocupação excessiva, irritabilidade e, consequentemente, poderão causar limitações ou bloqueios em tarefas do dia-a-dia, causando sofrimento físico e/ou emocional significativo.
Sendo que nesta situação existem inúmeras variáveis que não conseguimos controlar, como podemos então lidar com a ansiedade financeira prevenindo estes efeitos negativos?
- Aceitar as emoções e falar sobre isso
Falar sobre a ansiedade que sente com outras pessoas, principalmente com quem está a passar pelo mesmo, é essencial para ter uma perceção mais ampla do problema e a compreensão de que não está sozinho. Sobretudo poderá obter novas formas de pensar o problema e eventualmente possíveis soluções, tanto para lidar com as suas emoções, como para gerir o seu orçamento de uma forma mais eficaz.
- Moderar o consumo de notícias e das redes sociais
Um dos principais fatores que podem induzir esta ansiedade é a constante informação que nos chega através da televisão, da rádio e das redes sociais. E se estamos na era da informação e da tecnologia, com tudo o que isso traz de bom, também estamos cada vez mais despertos para as suas consequências. As notícias, muitas vezes, exacerbadas e alarmistas criam a tal sensação de ameaça que, por vezes, é apenas uma antecipação do que pode acontecer e não é um real perigo no momento. E, por isso, deve evitar um consumo de informação excessivo e filtrar essa mesma informação que recebe. No entanto, é importante manter-se informado e não o evitar por completo.
- Tempos de crise são também tempos de oportunidade
Muitas vezes é nos momentos mais difíceis que se criam grandes oportunidades. É-se obrigado a questionar e refletir sobre o que poderá ou não ser mudado, o que nos leva a um melhor caminho. Talvez seja importante redefinir necessidades e prioridades, repensando a forma como vê o dinheiro e como o gere. Perceba quais são realmente as suas necessidades de consumo, de uma forma realista e ponderada, e trace um novo plano para o seu orçamento ajustado aos seus objetivos futuros.
- Libertar-se da vergonha e pedir ajuda
A ansiedade aliada à vergonha pode gerar um bloqueio mental e comportamental ao ponto de não sermos capazes para agir e, assim, perpetuamos este ciclo negativo. Assumirmos que não estamos a conseguir fazer diferente não é vergonha ou fraqueza, é sim, sinal de coragem. Liberte-se da vergonha e peça ajuda, se necessário. Quer a nível psicológico, quer a nível financeiro. Se de facto sentir que esta situação persiste e está a ter um impacto significativo na sua vida, peça ajuda – um psicólogo pode ajudar.
Lembre-se que, apesar de não podermos controlar a crise económica/política, podemos aprender a lidar com as nossas emoções, pensamentos e comportamentos de uma forma mais construtiva e positiva.
Sandra Branco
Psicóloga Clínica