Sabia que o cérebro da mulher muda mais rapidamente e mais drasticamente durante
a gravidez e no período pós-parto do que em qualquer outra fase da vida?
De facto, a fase perinatal traduz-se numa plasticidade neuronal maior do que aquela
que encontramos no cérebro adolescente. Estas mudanças são tão acentuadas que um
algoritmo de computador consegue facilmente distinguir o cérebro de uma mulher
que nunca deu à luz, do cérebro de uma mulher grávida de primeira viagem.
Mas as alterações cerebrais no período de gravidez e no pós-parto anunciam efeitos
colaterais muitas vezes frustrantes, como por exemplo a falta de memória típica da
gravidez (o conhecido “cérebro de grávida”), e as mudanças de humor que
acompanham esta fase da vida.
Mas nem tudo é negativo. Um dos fenómenos que ocorre no cérebro de uma mulher
grávida é a chamada “poda sináptica”, através da qual são eliminadas as ligações entre
células cerebrais que são desnecessárias. Ou seja, ao eliminar o que não é preciso, o
cérebro dispõe de mais recursos, facilitando as ligações entre os neurónios que
realmente importam para o desempenho das tarefas da maternidade.
Já se deu conta de como as mulheres nesta fase da vida se tornam especialistas no
planeamento e passam a prestar atenção aos mais ínfimos pormenores? É isso
mesmo!
Embora à primeira vista a perda de ligações neuronais possa parecer negativa, ela
ocorre para tornar o cérebro da mulher especialista na adaptação à maternidade e às
tarefas necessárias aos cuidados ao bebé.
E os homens? Embora haja menos investigação que estude os cérebros dos homens na
adaptação à parentalidade, parece que o processo é muito semelhante. No entanto,
como existem os processos hormonais característicos da gravidez, a plasticidade
cerebral paterna é sobretudo dependente da experiência. O que quer isto dizer? Quer
dizer que o cérebro de pai especialista é aquele que mais tempo passa com o seu
bebé.
Que os vossos bebés sejam bem-vindos e que deixem esses vossos cérebros a alta
velocidade!
Ana Ganho Avila, psicoterapeuta, psicóloga, doutorada em neurociência, especialista
em psicologia clínica e da saúde.