Ao longo da nossa vida passamos por diversos ciclos marcantes, como a infância, a adolescência e a fase adulta. Em todos esses ciclos advêm mudanças biológicas, comportamentais e emocionais e, por isso, é expectável que surjam várias crises nesse seguimento. É importante compreender que estas alterações não afetam todas as pessoas da mesma forma, no entanto, é certo que há já alguma evidência científica da chamada crise de meia idade, que pode ocorrer entre os 45 e os 55 anos. A verdade é que pode ser duro gerir um conjunto de alterações físicas, nomeadamente os sinais de desgaste e exaustão que o corpo vai dando, a perda de energia e a diminuição de outras capacidades, que conduzem à confrontação com o inevitável envelhecimento. Trata-se da preparação para o novo ciclo que se inicia, com tudo o que isso implica, no sentido de aceitar e lidar com a perda de capacidades ao mesmo tempo que a sociedade pressiona para se manter com a mesma juventude, energia e produtividade.
A crise de meia idade é, também, muito marcada pela ideia de que metade da vida já passou e com esse pensamento vem um questionamento do que já se alcançou ou não até aqui. Nesta virada de ciclo é comum fazer-se uma retrospetiva do passado, seja com alguma nostalgia ou com culpabilização e arrependimento. Lamentações por coisas que poderia ter feito diferente e conflitos internos marcados pela autocrítica, conduzem a sentimentos de frustração e insatisfação. A vida profissional que muitas vezes traz uma sensação de monotonia e de não realização… A nível pessoal, os relacionamentos poderão também ser postos em causa. Com a saída dos filhos de casa surge o denominado síndrome do ninho vazio, o que implica voltar a trazer o foco para o casal. Assiste-se frequentemente a um desinvestimento no casal durante a infância e adolescência dos filhos e com a sua autonomização poderá sentir-se um vazio na relação e até um questionamento do propósito de vida. E, assim, se instala a sensação de tédio e descontentamento com a vida no geral.
O que fazer, então, com os sentimentos de infelicidade e insatisfação?
Primeiramente, compreenda que é natural que nesta fase sinta um turbilhão de emoções. Não está sozinho/a! Adote uma postura autocompassiva – de compaixão, compreensão e aceitação pelo momento que está a passar e por si próprio.
Mantenha-se ativo – procure manter uma rotina saudável, dentro do que poderão ser as limitações que já sente em termos físicos. Aproveite esta fase para explorar novos interesses e hobbies.
Faça uma revisão dos seus objetivos e prioridades de vida – apesar de já não se ser assim tão jovem, é importante que se mantenha focado/a nos seus objetivos. Não é tarde para os alcançar. Se for necessário faça uma revisão do que realmente pretende para a sua vida.
O autoconhecimento pode ser o caminho para as suas dúvidas – no emaranhado de questões que possam estar a surgir na sua mente por vezes é difícil encontrar a ponta do novelo. Um psicólogo pode ajudá-lo a trabalhar o autoconhecimento e encontrar respostas para as suas dúvidas. Peça ajuda!
A juventude não é, de facto, eterna. Mas a maturidade que o envelhecimento traz permite-lhe ter uma maior capacidade para lidar com as dificuldades com uma enorme sabedoria!
Sandra Branco
Psicóloga Clínica