A adolescência é o período mais sensível da construção de identidade do ser humano, logo a seguir à primeira infância, segundo Coimbra de Matos¹. Nesta procura de identidade, o psiquismo passa por uma “desintegração”, em que o adolescente vivencia uma fase de separação-individuação dos pais. O que se traduz habitualmente num sentimento de desilusão porque estes “não ouvem”, “não permitem o diálogo” ou “não entendem”.
Mas há um conflito latente entre o desejo de autonomia/ independência e o protetorado/ dependência dos pais. Há sentimentos depressivos, pela perda do passado infantil (e do Eu ideal parental), mas também momentos de inquietação por medo do desconhecido. Também o corpo infantil, inocente e imaculado, sofre agora rápidas e intensas mudanças fisiológicas e orgânicas, começando a ser altamente sexualizado. Por isso, o adolescente pode passar horas ao espelho, sobretudo as raparigas, com dificuldades em “compor” e aceitar este novo corpo.
Em busca de afirmação como ser independente, nas suas aspirações, valores e ações, o adolescente explora intensamente as opções no exterior e com o seu grupo de pares, usando recursos mentais já mais sofisticados.
Alguns autores referem-se a tudo isto como uma “síndrome normal da adolescência”:
– a busca de si mesmo e da identidade
– a tendência grupal
– a necessidade de intelectualizar e fantasiar
– a evolução sexual manifesta
– a atitude social reivindicatória
– as constantes flutuações de humor
O papel dos pais
Os pais deixam de ser a única fonte de apoio e suporte para o adolescente, e os acontecimentos e necessidades podem agora ser partilhados ou preenchidos por outros elementos significativos. No entanto, ao contrário da família, estas novas ligações têm que ser conquistadas; e isso será feito tendo por base a qualidade dos modelos parentais.
É, assim, fundamental que o adolescente se sinta ligado aos pais por um vínculo saudável e que o sistema familiar se adapte a estas mudanças no desenvolvimento, permitindo uma exploração saudável e regulada do meio, que favoreça a autonomia e confiança. Os pais terão de se ajustar para encontrar novos papéis e em conjunto reequilibrar e redefinir uma nova hierarquização do poder parental.
Mas a maturidade psicológica ainda não acompanha a maturidade biológica, e o comportamento impulsivo é um sintoma da insuficiência na capacidade de pensar e de prever consequências. Por isso, cabe aos pais estarem disponíveis para «deixar o adolescente ir, mas garantirem que não vá demasiado longe, demasiado cedo» ².
Quando pedir ajuda?
É difícil, por vezes, estabelecer uma fronteira entre a crise normal da adolescência e os aspetos clínicos. É, como referimos, essencial a família aceitar as dinâmicas adolescentes normativas, e possibilitar que elas tenham o seu lugar. Mas há sinais que podem indicar a presença de problemas na adaptação a esta nova fase, e que se não abordados podem levar o psiquismo do adolescente a ficar enquistado na homeostasia da infância, bloqueando o próprio processo de desenvolvimento.
Assim, quer os pais, quer professores ou mesmo colegas e amigos, devem estar atentos e sinalizarem sintomas como: a rigidez comportamental, forte inibição, a quebra do desempenho escolar, a percepção de um elevado e continuado grau de sofrimento, problemas alimentares, ou a existência de comportamentos destrutivos, quer representem dano para terceiros ou para o próprio. Qualquer um deles, isolado ou em combinação com outros, podem relevar problemas de adaptação. Por isso, perante sinais como estes, é muito importante procurar ajuda profissional.
¹Coimbra de Matos, A. (2002). Adolescência. Lisboa: Climepsi
²Blum, H. (2004), Separation-individuation Theory and Attachment Theory, JAPA, 52(2), pp. 535-553
Luísa Coelho
Psicóloga Clínica